quinta-feira, 30 de março de 2017

Pit Bull - Padrão ADBA traduzido em português

>> Esta tradução tem como objetivo ajudar a compreensão do padrão original que é em inglês e que não possui traduções oficiais para o português. Este é o único objetivo desta postagem.
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GR CH IV LATIN DREAM KENNELS BEEF
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I. Introdução

A. Para realmente entender qualquer padrão de raça, é preciso conhecer a história por trás da existência de uma raça.

B. O objetivo de um juiz é a escolha imparcial de reprodutores de qualidade que possuam o verdadeiro tipo racial.

C. A responsabilidade de julgar é eleger os cães que mais se enquadram no padrão de conformação, deixando de lado o viés pessoal.


II. Aparência Geral 20 pontos.

  A. Conformidade com o tipo racial.
  1. Deve parecer como um american pit bull terrier pela pista de apresentação.
  2. Robusto, tridimensional. Dando a impressão de força, não leve ou frágil.
  3. Aparência quadrada, com osso pesado, frente sólida com uma leve e elástica garupa.
  4. Deve ter aparência atlética, não volumosa. A musculatura deve ser suave porém definida.
  5. A apresentação de um cão adulto deve ser de um animal exercitado e de massa magra, mostrando uma sugestão visual de costelas e espinha dorsal (sem mostrar ossos do quadril) com os músculos firmes e definidos. Pelagem limpa e brilhante com unhas curtas e aparadas. A apresentação dos cães nas classes filhote deve ser de um filhote bem nutrido, sem mostrar nenhuma costela, espinha dorsal ou ossos do quadril. A pelagem deve ser brilhante com unhas curtas, aparadas.
  B. Equilíbrio
  1. Angulação equilibrada da articulação dianteira e traseira - julgada melhor durante o trote.
  2. Relação altura / peso - o cão mais alto com um dado peso
  3. Tamanho da cabeça em proporção ao corpo, com um pescoço longo o suficiente para que 2/3 da cabeça estejam acima da linha superior da cernelha quando a cabeça está em uma posição vertical normal.
  C. Apresentação
  1. O cão é socializado, mostrando o interesse nas coisas em torno dele.
  2. Embora algum grau de agressividade contra outros cães e animais seja característico da raça, o comportamento indisciplinado irá diminuir a capacidade dos juízes de julgar com precisão a conformação individual de um cão.
  D. Saúde
  1. A vitalidade do espírito do cão, o brilho da pelagem e dos olhos dos cães, exalam a saúde do animal.
  2. As cores ou padrões de cores conhecidos como geneticamente ligados a problemas de saúde serão considerados uma falha grave. Faltas graves: cor merle, e albinismo (cão branco com olhos azuis ou rosa, narinas e lábios sem nenhum pigmento, sem pigmento nos coxins, bordas de olhos, etc.).


III. Atitude 10 pontos

A. Confiante e alerta.

B. Interessado em coisas ao seu redor, no controle de seu espaço, não ameaçado por nada em seus arredores.

C. Gentil com os entes queridos. Falha grave: timidez ou insegurança.


IV. Quarto traseiro 30 pontos

A. Lombo
  1. Amplo e longo o suficiente para um cão quadrado. Muito curto pode interferir com a flexibilidade dos cães. Um lombo demasiado longo faz com que o cão leve excesso de peso e afeta a sua agilidade e velocidade.
B. Quadril
  1. Longo e inclinado com largura adequada. Isto pode ser julgado pelo conjunto da cauda, que deve ser baixa.
  2. Inclinação ideal do quadril deve ser de 30 graus para o chão.
C. Proporções das pernas traseiras.
  1. O fêmur deve ser de um comprimento de modo que a junta entre a tíbia e fêmur esteja 1/3 mais alta no conjunto traseiro.
  2. A tíbia-fíbula é o osso mais longo do conjunto traseiro.
  3. O comprimento do metatarso é moderado, com músculos que se unem igualmente em cada lado do osso, de modo que os jarretes se movem paralelos entre si, não se desviando nem para dentro nem para fora. Os ossos dos metatarsos, jarretes e parte inferior da tíbia devem ser leves, finos e elásticos.
  4. Angulação traseira - relação entre os comprimentos dos ossos e os músculos que se prendem sobre estes ossos, causa uma curva leve que leva a um jarrete em ângulo reto. Isto contribui para a elasticidade natural que é desejada no conjunto traseiro.
  5. O ligamento do músculo é longo e profundo, bem passado o ideal comum para o poder de impulso, que faz com que os músculos apareçam lisos, mas definidos. (Não volumoso). Faltas: quadril curto ou plano, reto retorcido, deslizante(exemplo aqui), jarrete de vaca, músculos volumosos(excessivamente).


V. Quarto dianteiro 20 pontos

A. Caixa torácica
  1. Profundo e elíptico com um esterno proeminente ou prosterno. Pela lateral, o fundo da caixa torácica deve pelo menos ser na mesma altura da articulação do cotovelo.
  2. Bem arqueado na parte superior, afilando para o fundo, estendendo-se bem até o lombo.

B. Ombros
  1. Mais larga do que a caixa torácica na 8ª costela. Escápula bem colocada, num ângulo de 45 graus ou menos para o chão, e ampla e plana, permitindo adequada aderência muscular para uma frente pesada e resistente.
  2. O úmero é angulado em um ângulo oposto de 45 graus e é longo o suficiente para que o cotovelo chegue ao fundo da caixa torácica, cotovelos estendidos contra o corpo.
  3. Os antebraços são ligeiramente mais longos que o úmero e sólido, o dobro da espessura do metatarso no jarrete.
C. Patas
  1. Pequenas e justas, fixadas altas nos metacarpos.
  2. Almofadas(coxins) espessas, e bem construídas.
  3. Os ergôs(5º dedo) são naturais nas patas da frente, e não ocorrem naturalmente nas pernas traseiras. Faltas: peito "barril", peito estreito, ossos finos, cotovelos para fora, baixo dos metacarpos, patas espalmadas, almofadas finas, ergôs traseiros.


VI. Cabeça e Pescoço 15 pontos

A. Pescoço
  1. Fortemente musculoso à base do crânio
  2. Comprimento longo 
B. Cabeça
  1. Cabeça proporcional em relação ao resto do corpo. 
  2. 2/3 da largura dos ombros.
  3. Em forma de cunha quando vista de cima ou de lado, e redonda quando vista da frente.
  4. Os Masséteres (bochechas) são 25% mais largos do que o pescoço à base do crânio.
  5. O comprimento do focinho ao stop deve ser igual ao comprimento do stop à parte de trás da cabeça.
  6. A cana nasal é bem desenvolvida. O preenchimento sob os olhos(arco zigomático) deve ser mais largo do que a cabeça(ou crânio) na base das orelhas para o apoio estrutural dos caninos superiores.
  7. A cabeça deve ser profunda desde o topo da cabeça até o fundo da mandíbula.
  8. Focinho como uma caixa reta.
  9. Lábios justos
  10. Os dentes - os incisivos devem se encontrar na parte dianteira em uma mordedura em tesoura. Os caninos devem ser largos na base e afilados à extremidade, caninos superiores cabem firmemente junto atrás dos caninos inferiores. Eles devem ser saudáveis, sem nenhuma falta.
  11. Olhos - pequenos e profundos. Elíptico quando visto de frente, triangular quando visto de lado.
  12. Orelhas - não deve ser dada preferência a orelhas cortadas ou naturais, exceto para aumentar a atratividade geral do cão individual. 
Faltas: pescoço curto, bochechudo, focinho subdesenvolvido, lábios grandes, caninos faltando, prognatismo inferior ou superior, na medida em que os caninos não se encaixam firmemente juntos.


VII. Cauda e revestimento(pelagem e pele) 5 pontos

A. revestimento (pelagem e pele)
  1. Pele grossa e solta ao redor do pescoço e peito, bem ajustada nas outras partes, mostrando dobras verticais ao redor do pescoço e peito, mesmo em um animal bem exercitado.
  2. Pêlo curto e eriçado, o brilho mostra a saúde geral do animal.
  3. Qualquer cor ou qualquer combinação de cores, exceto cores conhecidas por estarem geneticamente ligados a problemas de saúde.
B. Cauda
  1. Grossa na base, afilando-se à ponta. Seu comprimento deve ter a cauda estendendo-se a ponta do jarrete.
  2. Pendurada como um manípulo de uma bomba d'água manual quando relaxada.

Faltas graves: Cor Merle ou albinismo. (cão todo branco com olhos azuis ou cor-de-rosa, e falta de pigmento)
Faltas: Pêlo longo, pelagem franjada na cauda ou em qualquer outra parte, cauda cortada(ou curta) ou qualquer outra cauda que não seja reta.
Desqualificações: Agressividade contra humanos, criptorquidismo unilateral ou bilateral, cães esterilizados ou castrados.

O  padrão ADBA de conformação do APBT® agora inclui um peso ideal de condicionamento para competições de conformação, que deve ser entre 30 e 75 libras(13 a 34 kg). Acima de tudo, o American Pit Bull Terrier deve parecer, em um todo, um atleta. Seu corpo é criado para a velocidade, força, agilidade e resistência. Ele deve ser equilibrado em todas as direções. Uma característica exagerada, rouba-lhe qualidade em outra. Em sua forma ideal, ele é uma coisa de beleza.

Pontuação soma 100 pontos no máximo.

O padrão ainda estabelece que: [...]"Este padrão não é um identificador de raça. Ele só pode ser usado para julgar os padrões de qualidade do American Pit Bull Terrier, conforme estabelecido. Sua finalidade é para o uso por criadores e por juízes sancionados da American Dog Breeders Association Inc. em competições oficiais de conformação"[...]

*TEXTO ORIGINAL: https://adbadog.com/heritage-american-pit-bull-terrier-conformation-standard/
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Algumas imagens que podem ajudar a ilustrar o padrão(clique para ampliar):

imagem semelhante a ilustração original no padrão ADBA do pit bull

Guia: morfologia canina. Clique para ampliar a imagem
>> Esta tradução tem como objetivo ajudar a compreensão do padrão original em inglês que não possui traduções oficiais para o português. Este é o único objetivo desta postagem.
American Pit Bull Terrier (APBT) breed standards (ADBA & UKC).
Diferença entre os padrões

domingo, 5 de março de 2017

Antigo bulldog inglês - Origem, parentes e história

Introdução:
A denominação "bulldog"("cão de touro"), ao contrário de hoje, fazia referência a uma função, não a uma raça em específico. Qualquer cão que fosse bom na lida com o gado(especialmente, que dominasse um touro pelas ventas ou pelas orelhas), ou que fosse bom na caça de touros ou no combate com os mesmos, era chamado de 'bulldog".
Com o tempo, somado a cruzamentos consanguíneos e a adoção do conceito de "raça pura", "bulldog" acabou tornando-se uma raça.

Irei compartilhar aqui informações sobre sua possível origem, primeiramente através de um mapeamento.

(Atenção: você pode pular algumas partes, basta apenas acionar Ctrl+f, colar o título da parte desejada e usar a seta)
Sumário:
- POVO ALANO
- CÃO ALAUNT
- TRAJETÓRIA e POSSÍVEIS DESCENDENTES
- HISTÓRIA dos CÃES INGLESES
     * Bull-baiting
     * Philo-kuon
     * Primeiro "padrão"
- MINIATURIZAÇÃO DO BULLDOG
- GALERIA

POVO ALANO
Clique para ampliar o mapa(mapa atual), e se familiarize com os países e suas localizações

Muitos estudiosos acreditam que o "bulldog" descende do extinto Alaunt(ou Alano), o cão do povo Alano.
Os alanos eram um povo de origem iraniana(do nordeste do Cáucaso). Eram um povo composto por pastores nômades e guerreiros.

Aproximadamente entre os anos 360 e 370 o povo Huno conseguiu domínio sobre o império dos Alanos, obrigando muitos destes a migrar(alguns ficaram). Os alanos dividiram-se, pelo menos em dois grupos, um grupo deve ter se deslocado para o nordeste do que hoje é a Polônia e se juntado aos povos Eslavos*(um povo germânico), e estes povoaram a Europa central e oriental, assim como também a região dos Bálcãs.
Outro grupo(que depois recebeu o apelido de 'Alanos ocidentais') atravessou a Europa e uniu-se a povos Germânicos(especialmente Suevos e Vândalos) que também estavam "fugindo" do Hunos, e invadiram a antiga Gália(pertencente ao império romano) levando seus rebanhos e cães, e posteriormente se estabelecerem juntos em uma região chamada Hispânia, que hoje pertence a países da península ibérica, entre eles a Espanha, incluindo parte do sul da França.

O povo Visigodo(outro povo germânico) enfrentou os Alanos, Suevos e Vândalos pelo controle da Hispânia. A partir daí, dentre este grupo de Alanos, uma parte ficou na península ibérica e "empurrou" os suevos para a Galécia, enquanto a outra(a maior parte) acompanhou os Vândalos(passando a fazer parte dos mesmos) para o norte da África no ano 429 onde fundaram um império, e em seguida ocuparam também estrategicamente a cidade de Cartago na costa norte-africana no Mar mediterrâneo, daí tomando a península itálica  (especialmente as Ilhas Córsega e Sardenha; e a Sicília), como também outras ilhas do Mar mediterrâneo, a exemplo do arquipélago das Ilhas Baleares.

migração dos Alanos(vermelho); Assentamentos dos Alanos(amarelo);
Expedições militares(laranja). Clique para ampliar

CÃO ALAUNT
Os alanos eram famosos por seus bravos cães, que eram utilizados na caça de grandes animais e na lida com rebanhos. Por onde passaram, os Alanos levavam seus cães.
Acredita-se que os cães Alaunts descendem do antigo mastiff sarmatiano(Mastiff dos Sármatas/ Sarmatian mastiff), e do que hoje chamamos de alabai, e do Gampr, e cães de caça e guerra de pelagem curta da antiga Índia e Pérsia.
Três tipos de Alaunt
Muitos acreditam que o termo Alaunt, após a fama, tornou-se sinônimo de "cão de trabalho" e não representava uma raça específica. Os cães Alaunt possuíam linhagens/vertentes com variações de tamanho e tipo, cada qual especializada em determinada função. Na França, três vertentes foram classificadas e nomeadas: A mais pesada, Alaunt Boucherie("Alaunt de açougueiro"; o tipo tradicional/original), utilizado na guarda de rebanhos; a mais leve, semelhante ao tipo Lebréu, porém um pouco mais massuda que este(resultado de Alaunt X Lebréu), era chamada de Alaunt gentil; e o Alaunt veantre (Alaunt X Sabujo) cão forte, provavelmente o menor dos tipos, utilizado na caça de javali e urso.

TRAJETÓRIA e POSSÍVEIS DESCENDENTES (provavelmente relacionados ao Bulldog)

E agora, sabendo a trajetória dos Alanos, podemos ligar alguns pontos:
  • Um grupo de Alanos, provavelmente juntou-se aos Eslavos(um povo Germânico), os quais além de terem habitado a atual região da Alemanha(Germânia), também conquistou outras partes da Europa e a região dos Bálcãs(de onde acredita-se ter se originado o cão Molossus).
  • Outra parte dos Alanos atravessou a Europa e se estabeleceu na antiga Hispânia(Região hoje incorporada especialmente pela Espanha e parte do sul e sudoeste da França. De onde originaram-se as atuais raças: Alano espanhol, Perro de Toro, Ca de bou, e Dogue de Bordeaux(francês).
  • Esta outra parte dos Alanos também uniu-se a outros povos germânicos. E sabemos que os povos Germânicos, são nativos da região que hoje chamamos de Alemanha. De onde é originário o extinto cão Bullenbeisser.
  • Junto com os Vândalos, parte dos Alanos foram para o norte da África e fundiram-se com os Vândalos, os quais depois conquistaram partes da península itálica. De onde é originário o cão Cane Corso.
Agora vamos analisar cada uma destas raças citadas (com exceção do Molossus).
Começando pelos cães espanhóis:
  • Alano espanhol, que por vezes também é chamado de bulldog espanhol, é uma raça antiga e que descende do extinto Alaunt(Alano). O Alano espanhol foi utilizado para a lida com o gado, para a caça, e para o combate com touros. Possuí prognatismo*, e suas cores mais comuns são o tigrado e o fulvo. A raça esteve mais presente em uma região da Espanha conhecida como País Basco.
Cães combatendo touro em arena. Perros a un toro huido.
Pintura publicada na revista especializada em touradas La lidia, 1883
Quadro El perro en los Toros, por Pharamond Blanchard. Século 19
  • O Perro de toro("Cão de touro") é uma raça rara e considerada ainda mais antiga, que possuí grande parentesco com o Alano espanhol, porém é maior. Alguns acreditam que seja apenas uma variação do Alano espanhol(ou o inverso). Também tem como características o prognatismo e a coloração tigrado ou fulvo, etc.
Detalhe do Quadro Patio de Caballos de la plaza de toros de Madrid, 1856.
Possível cão Perro de Toro
  • Ca de Bou ("Cão de touro" em castelhano) é uma raça originária da ilha Maiorca, no arquipélago Baleares*, que descende dos "cães de presa"(cães de combate e caça) que conhecemos hoje como Alaunt ou do "Alano espanhol". Alguns exemplares possuem prognatismo mais pronunciado do que outros da mesma raça. Foi utilizado em combates com touros.
Ca de bou, fotografia provavelmente do início do século XX
  • Dogue de Bordeaux, uma raça francesa, cuja origem é associada a cidade francesa de Bordeaux, na região da Aquitânia. Contudo a raça foi formada pela junção de variedades de "cães de presa"(a variedade Toulose, a Parisiense, e a de Bordeaux),  de vários tamanhos, não só desta cidade. A raça foi apresentada pela primeira vez em 1863, e até metade do século XX o Dogue de Bordeaux possuía duas variedades: a menor, chamada de Doguin de Bordeaux, que era utilizada nos combates; e o Dogue de Bordeaux, o maior, também utilizado na caça e na guarda de rebanhos. Os seus ancestrais possuíam diversas cores(incluindo tigrado), hoje possuem como característica o prognatismo.
Escultura de um Dogue de Bordeaux atacando um lobo.
Museu nacional de história natural da França
Escultura no Jardim das Plantas de Toulouse
  • Bullenbeisser ("morde-touro" em alemão), uma raça nativa da Alemanha, que era possível descendente do Alaunt e possuía também algumas variedades. Além do cão "barenbeisser"("morde-urso") utilizado nas caças e combates com ursos, o bullenbeisser possuía duas variedades regionais: o maior, Danziger Bullenbeisser ("morde-touro de Danzig"); e a menor, chamada de Brabanter bullenbeisser ("morde-urso de Brabante"). Ambos eram utilizados nos combates com touros e na caça de grandes animais.
Danziger bullenbeisser(esquerda) o maior; e o Brabanter bullenbeisser(direita) o menor.
HISTÓRIA dos CÃES INGLESES

A região pertencente ao que hoje chamamos de Inglaterra, era habitada por povos Celtas(povos que habitaram quase todas as regiões por onde os alanos passaram), até que no século I a.C. os romanos vieram e conquistaram a região, a denominando "Britânia". Durante este período há registros do uso de cães de caça e guerra(provavelmente nativos, trazidos pelos Celtas), denominados de "Pugnaces britanniae"("Cão de guerra britânico") na região, e que eram muito exportados da Britânia para outros domínios romanos.

O historiador grego Estrabão relatou que cães eram exportados da Britânia com a finalidade de "game hunting"(caça de grandes animais), e que estes cães também foram utilizados antes pelos Celtas como "cães de guerra"(não sabe-se se é no sentido de "guerras humanas" ou "combate entre animais"). Considera-se que estes cães sejam os ancestrais do atual Mastiff inglês e até do Bulldog.

Por volta do ano 449 d.C. a Britânia foi invadida progressivamente por povos germânicos(Anglos, Saxões, etc). Daí em diante, a Britânia também foi invadida por outros povos(embora fossem invasões de maioria anglo-saxã), incluindo até vikings. Até aproximadamente no ano 1066 quando culminou na "Conquista normanda da Inglaterra" pelos franceses.

Conclusão até este ponto: Os Celtas no que hoje chamamos de Inglaterra(Britânia, para os romanos) possuíam cães poderosos(Pugnaces britanniae) que foram utilizados pelos romanos em guerras e combates, além da caça; e estes foram exportados também para vários domínios romanos. Povos germânicos em maioria, invadiram a Britânia, seguidos por franceses(lembre-se do Dogue de bordeaux) e até vikings. Estes povos germânicos podem ter levado os cães nativos da atual Alemanha e que seriam conhecidos mais tarde como Bullenbeisser("morde-touro"). E estes cães podem ser os ancestrais diretos dos "bulldogs" da Inglaterra.

Devido ao povo germânico Anglo, a região passou a chamar-se "England"("Terra dos Anglos").

* Bull-baiting
Durante a idade média, iniciou-se uma série de combates sangrentos entre animais, que eram tratados como esporte, os "Desportos sangrentos". Além da briga de galos e da briga de cães, outras "modalidades" surgiram e tornaram-se até mais populares que estas. Combates entre cães e urso(Bear-baiting), combate entre cães e texugo("Badger-baiting"), etc. Porém a mais popular era o combate entre cães e touro(Bull-baiting).
O livro Observations on Popular Antiquities, nas páginas 39 e 40, relata a origem do Bull-baiting (também chamado de Bull-running), apresentando uma versão que é considerada lenda. Diz que o Lorde William de Warenne da cidade de Stamford (Lincolnshire, Inglaterra), no tempo do Rei John, de seu castelo observou ao longe dois touros lutando por uma fêmea; um açougueiro da cidade, dono de um dos touros, soltou um grande cão(identificado como um "mastiff") sobre seu touro, o cão o capturou e forçou a voltar para a cidade. Já na cidade, o touro estava sendo perseguido por outros "cães de açougueiro", tanto os grandes quanto os pequenos*(haviam variedades). Neste momento o touro já estava enfurecido com os ataques dos cães e o barulho do povo. O animal derrubava todos em seu caminho, e logo isto virou um grande tumulto na cidade. O barulho chamou a atenção do Lorde, que logo pegou seu cavalo e partiu para o tumulto. E chegando, achou divertido o que viu.
O Lorde então "doou" a pradaria onde os touros começaram a brigar, para os açougueiros manterem seus touros até o momento do abate, e neste dia, até seis semanas antes do natal, de vez em quando, escolheriam um touro bravo para continuação do "esporte". E isto deveria acontecer anualmente, para sempre.
Bull-baiting. 1812~1815, by Charles Towne
Uma prática semelhante, com mais "excessos", era encontrada na cidade de Tutbury, condado de Staffordshire, e esta tornou-se mais popular que a de Stamford, espalhando-se pela Inglaterra, especialmente nas cidades rurais da região noroeste, onde também variações do "esporte" surgiram.

Independente de como surgiu, os esportes sangrentos popularizaram-se pela Inglaterra, e perpetuaram-se durante séculos.

O termo bulldog("Cão de touro") foi utilizado, de forma documentada, pela primeira vez aproximadamente no ano de 1631. Em tempos mais antigos, eram chamados apenas de "mastiffs" ou outras denominações "genéricas".
Todo cão que era bom no Bull-baiting, era chamado de 'Bulldog'. Estes primeiros "Bulldogs", possuíam um certo nível de prognatismo*, mas seus focinhos não eram curtos. Cães prognatas eram perfeitos para o Bull-baiting, já que este tipo de mordedura, apesar de permitir que o cão segurasse o touro, não lhe feria a carne, rasgando, ou seja, a carne do touro não era estragada. E isto era bom, por que depois do combate os touros eram abatidos pelo açougueiro, e sua carne era vendida.

* Philo-kuon
No século 18, os Bulldogs estavam com uma péssima fama. Dizem que tentaram utilizar estes cães como cães de guarda ou pets, mas que estes eram inapropriados, considerados cães extremamente perigosos; uma ideia implantada pelos Jornais britânicos que não economizavam em críticas, e constantemente "crucificavam" o Bulldog, criando na mente das pessoas uma caricatura de um "cão-monstro". Na mesma época, o parlamento debatia na tentativa de proibir os esportes sangrentos(será que teve relação com a difamação do bulldog? Acredito que foi uma estratégia). Em 1835, todos os esportes sangrentos foram proibidos, e sem utilidade o bulldog esteve perto da extinção. Imigrantes que levaram seus cães para os Estados Unidos encontraram funções para o Bulldog(veja  a história do Bulldog americano), mas na Inglaterra foi diferente.
Desde antes da proibição dos "esportes sangrentos", foi espalhada a ideia de que um bulldog de trabalho era inapropriadamente feroz, se não fosse meio-sangue. Mesmo antes de 1835, um grupo de criadores visionários, que ficaram conhecidos como criadores Philo-kuon(em latim significa "amante dos cães"; dizem que este nome era o pseudônimo de Samuel Wichens), iniciaram uma nova criação, na tentativa de salvar o "bulldog", símbolo da coragem inglesa. Eles começaram cruzando Bulldogs com Pugs, o que gerava cães aproximadamente de 10 kg(semelhantes ao Boston terrier) com orelhas em rosa. Estes pequenos cães eram testados no Rat-baiting(uma competição de matança de ratos), e os que passavam eram cruzados com bons bulldogs de focinhos um pouco mais curto que o normal, ou com bons "pequenos" mastiffs. Estes cruzamentos resultaram em cães de 20 a 27 kg, com focinho bem curto, semelhantes aos cães Boxers de alguns anos atrás.
"Bulldog", 1850, aproximadamente

* Primeiro "padrão"
Na década de 1860, a criação destes cães já estava solidificada, e estes animais se popularizaram com fama de bons cães de guarda.
Na mesma época, estes "bulldogs" começaram a aparecer nas exposições de cães, que na época eram como simples amostras de animais interessantes. Entre 1863 e 1865, foi fundado o clube do bulldog e foi escrito um "padrão" para a "raça", uma descrição do "Bull dog britânico". Foi o primeiro padrão de uma raça canina. E nele, especificava-se que os Bulldogs não deviam pesar menos que 10 kg ou mais de 27/28 kg, pois os cães fora destes pesos provavelmente possuíam sangue de Terrier ou de Mastiff; deveriam ser corajosos e determinados; um bom bulldog de 22 kg deveria ter uma circunferência de crânio de 50-51 centímetros(medidas semelhantes a de um pit bull); a melhor pelagem seria a salmão com narinas pretas, além de outras aceitas; e as piores seriam a black-and-tan e a azul.
Uma pintura de dois cães base de toda a criação, Crib e Rosa, foi anexado ao "padrão".
Crib and Rosa, por Abraham Cooper, 1817
MINIATURIZAÇÃO DO BULLDOG - O "bulldog" moderno
Em meio a ascensão das exposições de cães e a criação de raças como hobbie, o bulldog deixou de ganhar exposições. Então, ignorando o "padrão", um grupo de criadores começou a desenvolver "miniaturas" do bulldog, cães com focinhos incrivelmente curtos, peito muito largo e pernas tortas. Esta terceira variedade foi apelidada de "sour mug", e não parecia com nada já visto. Os criadores de cães philo-kuon examinaram os "sour mug" e os consideraram uma abominação. Porém os criadores das miniaturas, que continuavam aumentando em número, não deram a mínima e continuaram ignorando o padrão e os testes de aptidão. Os criadores dos cães  philo-kuon estavam mais preocupados em importar os melhores "bulldogs espanhóis"(provavelmente o alano espanhol) de focinhos curtos e cerca de 40 kg, para agregar a suas criações, e acabaram distraindo-se e deixando de interferir no rumo das criações de bulldogs. A versão miniatura porém, ganhava e ganhava cada vez mais exposições e logo os juízes foram convencidos de que o bulldog correto era o miniatura. 
Iniciou-se ai um conflito entre os criadores dos dois tipos. 
No final do século 19, os criadores dos bulldogs philo-kuon perceberam que seus cães estavam sendo evitados pelo público. Os criadores dos miniaturas expuseram publicamente a tal busca dos cães espanhóis, dizendo para todos que os criadores dos philo-kuon eram anti-patriotas e estavam inserindo sangue estrangeiro no cão símbolo da pátria.
Os criadores dos bulldogs philo-kuon desafiaram os criadores dos miniaturas para uma caminhada de 32 km, dizendo que os cães deles iriam desmoronar antes de completar o percurso. Como resposta, os criadores dos miniaturas disseram que seus cães até poderiam não completar o percurso, mas pelo menos não tinham sangue estrangeiro, eram "nobres cães ingleses de sangue puro". Os cães "sour mug" foram humilhados na caminhada. Porém, tantas propagandas patriotas lhe transformaram num símbolo inglês, e isto aliado a sua aparência exótica e temperamento dócil, lhe rendeu enorme popularidade. Os cães miniatura se sobressaíram, e foram o motivo da extinção dos bulldogs de trabalho da Inglaterra.
Por um tempo as duas variedades coexistiram, mas na virada do século 19 e início do século 20, o bulldog inglês moderno/miniatura se estabeleceu como o "verdadeiro bulldog inglês". 
Hoje, o Bulldog inglês é considerado uma das raças com mais doenças no mundo.
bulldogs, 1910

GALERIA:
(observe atentamente as características físicas, especialmente os focinhos, e as datas das imagens)
"The Bull-dog", aproximadamente 1798. Observem o focinho.
Antigo bulldog. Original.
Bulldog, ~1802, por Philip Reinagle 
Bull-baiting 1820, por Henry Thomas Alken
Bear-baiting, 1823, por Henry Thomas Alken
Badger-baiting, ~1823, por Henry Thomas Alken
Gravura The Bull-dog por Thomas Brown, 1829.
Antigo bulldog.
Bulldog de 1844, utilizado por um dos Lorde Orford para cruzar com greyhounds
(galgos ingleses). Cão semelhante ao tipo Philo-kuon
Bulldogs contra touro, 1860
Comparação entre bulldog do início do século 20 e um antigo Bulldog de 1866 de orelhas cortadas
Algumas FONTES:

Páginas